sexta-feira, 2 de março de 2012

A mulher gaúcha

Que a mulher nunca teve muito espaço no cenário gaúcho nós já sabemos, mas isso não significa que não tenha sido de suma importância para a nossa história.
Tanto peleando junto com os farrapos, quanto cuidando das estâncias, a mulher foi fundamental para a construção do gaúcho.
Ultimamente a mulher tem ganho bastante espaço no tradicionalismo. Vemos isso tanto na patronagem de CTGs, como na música e na lida campeira. A prenda tem mostrado cada vez mais seu lado "forte, aguerrido e bravo".
Este poema retrata muito bem isso. Boa leitura

Prenda Gaúcha
Gonçalves Chaves Calixto
Eu sou prenda gaúcha
Reparem no meu estilo
Este meu jeito tranquilo
Expressa a minha imponência
Tenho a mesma procedência
Do centauro farroupilha
Eu vim pela mesma trilha
Que o homem gaúcho veio
Com mesmo amor... mesmo anseio
Pela terra que sou filha.

Eu sou mulher gaúcha
Da mesma raça baguala 
Que o gaúcho quando fala
Me chama apenas de prenda
Esquece que fui legenda
Que história pouca contou
E o homem nunca notou
Cruzando no tempo afora
Por isso lhe falo agora
Da prenda guapa que sou.

Eu sou aquela que um dia 
Por força das circunstâncias
Ficou comandando estâncias
O campo e a gadaria
Enquanto o taura partia
Cruzando fronteira e serra
Indo ao encontro da guerra
Porque o dever o chamava
Eu aqui ficava
Tomando conta da terra.

Eu fui peona e fui patroa
Lidando com bois de canga
Fui maragata e chimanga
Sem escola, sem estudo
Gaúcha acima de tudo
Tendo o pampa por tesouro
Plantava e castrava touro
Na hora que precisava
E muitas vezes sangrava
Carneava e tirava o couro.

Fui tropeira e aprendi
Toda lida campesina
Pois tudo que a vida ensina
Pra sempre nos acompanha,
Fui parteira de campanha
Quando a vida me exigiu
Nas longas noites de frio
A tristeza sempre vinha
Porque aqui fiquei sozinha
Quando o gaúcho partiu.

Enquanto lá na batalha
O homem macho peleava
Era eu quem trabalhava
Enfrentando os empecilhos
Domando e criando filhos
Sentindo do homem a ausência
Mas lutei com persistência
Porque se o taura voltasse
Queria que ele encontrasse
Do mesmo jeito a querência.

Fui eu que através dos tempos 
Pelo homem fui lembrada...
Como mulher, e, mais nada
Do pampa sul brasileira,
Esqueceu que fui guerreira
Xucra, altiva, sem retovo
Pelo meu pago e meu povo
Se precisasse outra vez, faria tudo de novo.

Fui eu que fiquei à espera...
E quando o taura voltava,
Era eu que lhe curava
As feridas das batalhas...
Fui eu que fiz mortalhas
Na hora da despedida,
Fui eu que toda a vida
Vim andando ao seu lado
Vendo ser condecorado
E eu sempre sendo esquecida.

Eu não estou reclamando
De nada que tenha feito
Apenas quero respeito
Pela prenda e pela china
Esta altivez feminina
É a mesma onde quer que eu ande
Mesmo que o gaúcho mande 
Com machismo e arrogância
Que não esqueça a importância
Da mulher do meu Rio Grande.

Sem ser mais do que ninguém
Encaro o macho de frente
Digo a ti, taura valente
De estampa altiva e robusta
Não vais pensar que me assustas
Nem me julgues 'pequerrucha'
Nem tu, adaga e garrucha
Te faz tão grande, parceiro...
Saibas que tu coube inteiro,
no ventre de uma gaúcha!




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